O ‘Magalhães’ e a retórica
by manuel margarido
Afiança o Jornal Digital que, em São Mamede de Infesta, Matosinhos, Portugal, José Sócrates, presidiu à entrega dos primeiros computadores Magalhães a alunos do 1º. Ciclo do Ensino Básico, na Escola Padre Manuel de Castro. No acto, Sócrates disse: «Estamos hoje a formar uma nova geração de portugueses que domina o inglês e as tecnologias de informação e comunicação. Será uma geração mais bem preparada e em melhores condições para servir o objectivo do desenvolvimento do nosso país». Eu pasmo com o desígnio. Sócrates quer (melhor, está) a formar uma nova geração. De portugueses. O homem novo lusitano, à escala de uma geração! Com o Magalhães, esse milagre de inovação que devemos à Intel, dinâmica empresa nacional que, antes mesmo de se virar para o torrão, ousou, com uma visão globalizante digna de aplauso, produzir o mesmo aparelho em 30 países. Desde 2006. Com outro nome. E é assim que, em S. Mamede Infesta nasce “uma nova geração (…) para servir o objectivo do desenvolvimento do nosso país.”
Não se caustique a bondade da politica. Ela é, de facto, do domínio da bondade. Da fé no Magalhães. A retórica, essa, é absolutamente abjecta.
“A nossa tarefa consiste em dar à juventude a possibilidade de organizar, por si mesma, a sua vida, de forma activa e dinâmica, e ajudá-la com habilidade a fazê-lo. (…) tudo isto, pois, deve servir, entre nós, a formação cultural do homem novo.” – Enver Hoxha – “A Luta Ideológica e a Educação do Homem Novo“. [Citação desenvergonhadamente editada, de modo a criar semelhança entre os discursos. A ideologia, os pressupostos e os tempos são completamente diferentes. Mas a retórica, senhores ouvintes, a retórica…].
A denúncia da apropriação do Magalhães, como se fosse nosso, é justa. É, de facto, um produto da Intel, genericamente chamado “Classmate”, destinado a países do 3º Mundo. Adequa-se, pois, a Portugal. Falta dizer o que os senhores Alberto de Carvalho e Rodrigues dos Santos também não dizem: o Magalhães é apresentado como uma criação da empresa pérola de desenvolvimento das tecnologias do conhecimento que dá pelo auspicioso nome de Sá Couto. Está tudo dito. Com papas e bolos se engana um povoléu mascarado a pasta medicinal. É branqueamento, pois então.