Luís Felício – o som a casa
Com o som a casa, Luís Felício acaba de ganhar o concurso literário Artefacto Poesia, instituído pela Sociedade de Instrução Guilherme Cossul. Do livro, a ser publicado ainda este ano nas Edições Artefacto, se deixa aqui um poema (em pré-publicação pro bonum e agradecida), fragmento de uma obra onde os poemas se concatenam. E os parabéns ao Luís Felício, que me confiou/confidenciou para leitura o manuscrito original, (que poderá ter conhecido alterações.)
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cravo o prego no olho
do pássaro a cal mimética
opera a dissolução dos caminhos
sei que infância alguma me trará
de volta o branco odor do pó
(o nome assim tão raso do mundo)
à/a frase que cumpre o desígnio da espada
no furor da caça na solidão dos púcaros
a frase o friso semeado a mel cingido em ancas
e só meu esse gesto inodoro que
ornamenta a face afogueada do guerreiro
cujas mãos consumam a ira
de todas as metáforas
o céu é um favo a prumo sobre os olhos
o amor uma vertigem mineral
o gesto tão infantil de cavar o céu
inteiro a prumo a golpes de cinzel e susto
é sempre através dos nomes que a infância termina
é sempre através dos nomes que na carne se consuma
a terra aberta desde a raiz dos cânticos

«under the sky», Ariana Jordan © Ariana Jordan, via Deviantart (D.R.)