Poesia Portuguesa (29) – Ruy Cinatti
De O Livro do Nómada Meu Amigo, obra culminante no trabalho poético de Ruy Cinatti (1915 – 1986), o primeiro e terceiro poemas, na bela edição da Guimarães Editores, com poema de abertura de Sophia de Mello Breyner Andresen e ilustrações de Hansi Stael.
PROCLAMAÇÃO
A natureza não desce
A contratos. Nem a vida
Se mede pela razão.
A vida é toda mistério.
Quem largamente se deu
Não ofendeu a justiça
Mas viveu do coração.
*
DISPONIBILIDADE
Vem ver a vida
Passear silenciosamente
Como a ave no ar claro.
Vê-a que desce. Prende-a.
Nas tuas mãos em concha
Fica um instante.
Deixa-a fugir. Outras há.
Ruy Cinatti, in O Livro do Nómada Meu Amigo, (3ª Edição), pp. 17, 19, Colecção Poesia e Verdade, Guimarães Editores, Lisboa, 1981.