É quase noite — Beatriz Hierro Lopes
by manuel margarido
Esta escrita organiza-se na construção de uma memória, constitui-se meticuloso inventário íntimo. Ficciona o tempo para obter matéria narrativa. Recusando a recordação nostálgica, estabelece-se como trabalho de arqueologia: procura em camadas, até achar o que já foi ouvido, herdado, roubado, esquecido. Esta escrita faz-se e refaz-se contra a morte:
«Das fotografias antigas, o que de mais terrível fica é saber-se o fim.»
Narrar é produzir o real, narrar resgata, redime.
«chegar ao passado e dizer, à menina das tranças: não chore, nós gostamos tanto de si, e abraçá-la, ocupar o lugar de uma boneca feia que ela agarra e chamá-la ao ouvido: minha princesa.»
Beatriz Hierro Lopes, É quase noite, Lisboa: Averno, 2013.
(Apresentação do livro em Lisboa: sábado, dia 12 de Outubro, às 22 horas, livraria Paralelo W.)