Catarina Nunes de Almeida – «Bailias» (apresentação e um poema)
by manuel margarido
Poema do novo livro de Catarina Nunes de Almeida, «Bailias» (após «Prefloração», Quasi, 2006 e «A Metamorfose das Plantas do Pés», Deriva 2008) , de novo com a chancela da Deriva, que persistentemente continua a apostar nos seus autores e na poesia. Antecedido pela sinopse de contracapa, da autoria de Ana Salomé. Na imagem, o programa de apresentação do Livro em Lisboa, no Teatro da Casa da Comédia, dia 11 de Novembro às 21.30h.
«Catarina Nunes de Almeida lembra e recria, neste seu terceiro livro, as medievais cantigas de amigo e de amor. Imaginário de música e cantos de segréis, trovas de poetas e memoráveis danças de donzelas de corpos finos. Nos ecos dessas seroadas segura a música do seu universo poético, que cerziu a mulher à natureza e dessa ligação fez nascer íntimos catálogos de pássaros, árvores e frutos, novos espaços de idioma, pelejas, sínteses e fábulas. Move-se, com passo seguro, do antigo para o novo e do novo para o antigo, com a graciosidade e o assombro das bailadas, entre ‘Folguedos e Noites de Pastoreio’, ‘Barcarolas ou Manhãs Frias’, ‘Mágoas ou Cantos de Alvoroço’ e ‘Cantigas de Romãzeira’. Volta, com Bailias, a colocar a poesia no seu primordial lugar de cântico.» – Ana Salomé
Irei eu se ele for
na cavalgada.
Irei eu a galope em meus pés
veloz por entre as avezinhas
do fundo das águas-furtadas
em águas de lábios furtadas
veloz e espessa como a torrente
de um parto.
Irei eu em todas as minhas mãos
pégasos e ventanias
o corpo preso por um frio gentil
o corpo a tilintar de sonhos.
Serei eu o que ele for
na cavalgada.
Irei eu sem música sem mesa posta
dar-lhe prato verde
onde caibamos os dois dar-lhe
este emudecimento este abatimento cardíaco
da floresta.
Almeida, Catarina Nunes de, Bailias, Porto: Deriva Editores, 2010
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