Inês Lourenço – Há coisas que nunca
by manuel margarido
Há coisas que nunca
tivemos em crianças e perdem
o valor para sempre. Aquele sempre
dos primeiros dez anos, onde o tempo,
as pessoas, as coisas
parecem enormes e indestrutíveis.
Disfarçar-se de relâmpago
ou de outras coisas impossíveis, comer
todos os chocolates, ter uma bicicleta igual
à do estúpido do vizinho, fazer
as coisas que os adultos escondem
atrás da porta dos quartos, retribuir
a bofetada aos nossos
legítimos superiores, querer
morder com justa causa
tanta gente no mundo e
só poder no escuro
morder uma almofada.
Lourenço, Inês Coisas que Nunca, Lisboa: & etc. 2010.

«I'm Still a Child», Ben Heine © Ben Heine, via Deviantart (D.R.)
Ligações Relacionadas:
sobre Inês Lourenço (com alguns poemas anteriores ao livro Coisas que nunca)
uma leitura crítica do livro por H. G. Cancela
Nota: recomendo muito a compra do livro, pelo seu mérito, pela editora, pela autora; aconselho o que ainda não fiz; tendo lido diversos poemas dispersos online e gostando particularmente deste, trouxe-o do muito belo There’s Only 1 Alice. E comprarei, sim.